07/11/2010

Soneto da melancolia


Olhar cada amanhecer da mesma forma, sem cor,
daquela que meu coração não gostaria de sentir,
lateja dentro da alma,continuamente, uma cortante dor
que amanhece junto com o dia e não me permite fugir.

Em forma de prece agradeço toda bênçao recebida,
sentimento de culpa que aflora por não sentir assim.
Que dualidade ingrata é essa que persiste ressentida
se que o mais desejo é que tudo isso tenha fim?

Diviso o passado com consciência de toda a trajetória,
onde o sofrimento era maior por não ter a sabedoria
que cada ser tem construída a sua própria história

e que sequelas do pretérito mais longíquo fazem moradia.
O Criador em sua bondade dá para o consolo da depressão
o dom da poesia que faz se esvair as feridas da emoção.

Ana Maria Pupato


2 comentários:

Jorge Sader Filho disse...

Poesia maior! Poucos se atrevem.
Bem estrurada, o que é difícil em sonetos de mais de doze sílabas.
Seu significado é claramente expresso pela autora:"O Criador em sua bondade dá para o consolo da depressão
o dom da poesia que faz se esvair as feridas da emoção."
Ana tem uma escrita trabalhada, mas não confusa. Fácil de entender.
Parabéns!

Abraços,
Jorge

Carmem Teresa Elias disse...

Belo texto...em que a poesia claramente expressa o seu dom maior: dizimar o tempo e as sequelas por ele trazido...A poesia recria na atemporalidade, a solução de nossa vã materialidade....
ABÇS
carmem TERESA